(sugestão e imagens enviadas pelo leitor Carlos do Carmo Carapinha)



Como diria o poeta, há excelências e excelências, há verdades e aparências. [evoradeluxe@gmail.com]
Nesta cidade de excelência, há excelências originais. Por exemplo:
As calçadas: que tornam excelentemente ginasticadas as plantas dos pés dos excelentes transeuntes e contribuem para as excelentes performances do sector económico da reparação de calçado (sobretudo do de salto alto), pujante na cidade.
Os postes e placas de sinalização espalhadas a esmo e em plenos passeios, impondo aos cidadãos excelentes trejeitos contorcionistas, assim criando os hábitos saudáveis de prática de desporto, o que é muito louvável sobretudo no que respeita aos cidadãos com limitações físicas e aos que conduzem, o mais das vezes perigosamente, carrinhos de bebés, por exemplo.
A excelente disseminação dos mesmos sinais, em excelente ruptura desconstrutiva, como agora muito culta e intelectualizadamente fica bem dizer, com as anquilosadas regras do alinhamento, da simetria e do ordenamento.
A excelência do modo como essa mesma sinalização se ergue ao céu, simulando a poética e excelente ondulação das searas das zonas rurais que envolvem a urbe.
A excelência das decorações das fachadas dos edifícios das nossas bem conservadas ruas, com a felicíssima e excelente ideia de aproveitar a rede eléctrica e a rede telefónica para um rendilhado verdadeiramente único, que ofusca, até, as girândolas e enfeites natalícios.
A excelência do emolduramento das nossas praças e monumentos, com o feliz aproveitamento das diversificadas virtualidades estéticas dos veículos automóveis, emolduramento esse em magnífico crescendo, assim esbatendo a crueza do rude granito a que os construtores de muitos desses monumentos e praças tiveram a ousadia e infeliz desplante de recorrer. Veja-se, como primeiro exemplo, a moldura da Igreja e Convento da Graça.
Junto, para os incréus, algumas provas das excelências.
Catita a nossa cidade, não?
Sobre este assunto, gostava de saber duas ou três coisas.
A primeira é a seguinte: o que é que a ACDE anda a fazer para pôr cobro a esta concorrência desleal em relação ao comércio tradicional do Centro Histórico?
A segunda é esta: a receita que a CME arrecada deste «mercado» compensa o facto da CME ser conivente com o contrabando de artigos falsificados, com a comercialização de produtos sem factura e com comerciantes ambulantes que fogem descaradamente ao Fisco, ao contrário dos comerciantes do Centro Histórico que têm que pagar impostos, taxas, emolumentos, contribuição autárquica e manter toda uma série de papelada burocrática em ordem (o horário de funcionamento, a licença de utilização, o quadro de pessoal, etc. etc.) sob pena de serem multados e incomodados?
A terceira e última: não acham que a desculpa de que há gente com muitos baixos rendimentos que não tem outra opção para se vestir senão o recurso a este tipo de «mercados» é completamente hipócrita e cretina, visto que há sítios em toda a cidade de Évora com roupa tão ou mais barata que a que se pode encontrar no «mercado»?
Haja vergonha e, acima de tudo, justiça!!
”Numa cidade que já perdeu 2 mil habitantes desde 2001, chama-se a isto discutir peanuts.
Numa cidade sem capacidade para atrair empresas e novos residentes, chama-se a isto discutir peanuts.
Numa cidade em que o desemprego atinge os valores mais altos do país, com destaque para os 16% de licenciados, chama-se a isto discutir peanuts.
Numa cidade onde só no Centro Histórico existem 600 casas vazias a arruinar-se (cerca de 18% do total do CH), chama-se a isto discutir peanuts.
Numa cidade onde já fecharam centenas de comércios, chama-se a isto discutir peanuts.
Numa cidade onde há mais de 1000 casas à venda sem comprador e sem que se perceba o que vai acontecer a quem vive deste sector económico, chama-se a isto discutir peanuts.
Numa cidade onde a Universidade perde alunos, desde 2002 (passou de 8 mil para 6 mil), atravessando uma crise tão profunda que está em causa a sua sobrevivência, chama-se a isto discutir peanuts.
Numa cidade de 40 mil habitantes, onde circular está transformado num sofrimento diário, como se tivesse 400 mil habitantes, chamam-se a isto discutir peanuts.
Numa cidade onde as forças vivas já não agem, apenas se reagem, chama-se a isto discutir peanuts...
...
Mas continuem, se isso vos faz bem ao vosso ego.”
Fica, por isso, o aviso: o visionamento das imagens constantes neste blogue não é um exercício particularmente agradável.