sábado, 8 de novembro de 2008

Caixa Negra

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Ano após ano, mandato após mandato, ali jaz, degradado, abandonado, na Rua de Valdevinos, o Salão Central Eborense. De tempos a tempos, ou seja, quando se aproximam eleições autárquicas, o Salão Central Eborense volta novamente à colação travestido de «promessa». Os candidatos a presidente de câmara, sobretudo os que transitam de anteriores mandatos, adoram pronunciar aquelas palavras, inseridas no rol de promessas eleitorais: S-a-l-ã-o C-e-n-t-r-a-l E-b-o-r-e-n-s-e. Nesta fase do campeonato, duvido que alguém ligue a essa espécie de inevitabilidade anedótica eleitoralista, a que se assiste com o também inevitável encolher de ombros. A verdade é só esta: ninguém sabe o que vai acontecer ao Salão Central Eborense. A última novidade surgiu, o ano passado, da boca do Sr. Presidente da CME: o Salão Central Eborense, atenção!, vai ser convertido em… Blackbox. Eu já estranhava a demora na utilização de um qualquer estrangeirismo de encher o olho. Blackbox: soa bem, não soa?

Com ou sem Blackbox (que eu não sei o que é mas deve ser uma coisa fantástica) os eborenses podem estar cientes de que continuarão a assistir a mais do mesmo. A CME (a do anterior executivo, do Dr. Abílio Fernandes, e a actual), de forma que considero vergonhosa e incompreensível, deu-se ao luxo de não querer ter trabalho na revitalização de uma instalação cultural que permitiria o desenvolvimento de importantes actividades ligadas à área do cinema e do teatro. Em qualquer Centro Histórico de qualquer cidade europeia classificada, seria impensável assistir ao definhar, ano após ano, de um antigo espaço que albergou durante mais de 40 anos o cinema de uma cidade e que foi construído de raiz com esse propósito. O resultado dessa incúria manifesta-se nas mais diversas situações. O Cineclube da Universidade de Évora e o Núcleo de Cinema da SOIR Joaquim António de Aguiar desenvolvem uma meritória e importante divulgação de cinema de autor num espaço miserável para essa função (sem desprimor para o Auditório Soror Mariana). Os cinemas Alfa Lusomundo, instalados no Centro Comercial Eborim, vão encerrar e Évora - uma cidade com mais de 40.000 habitantes, património mundial, visitada por milhares de pessoas anualmente, com uma universidade com mais de 6.000 alunos - vai ficar sem cinemas sabe-se lá por quanto tempo. A quantidade de actividades e eventos que poderiam ser desenvolvidos no Salão Central Eborense (caso ele não tivesse sido entregue à incúria de executivos camarários que vivem da letargia e da apatia) é imensa. O contributo para a cena cultural eborense seria preponderante. E, last but not least, seria mais um instrumento de fixação dos jovens e menos jovens à cidade e, em particular, ao Centro Histórico, numa época em que se assiste, cada vez mais, à debandada dos mais novos rumo a outros pólos de interesse cultural. Mas não. Agora é a vez da Blackbox. Paz à sua alma.

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9 comentários:

Anónimo disse...

Triste que os calhaus acéfalos que residem cá por Évora e pelo Alentejo nem sequer "encolham os ombros" perante estes desmandos e a total insensibilidade dos déspotas que detém os poderzinhos cá do burgo.
Triste gentinha!
Parabéns pelo blog!

Anónimo disse...

Presumo que "encolhas os ombros". E fazes mais o quê? Queres ver que também fazes parte da "triste gentinha"?
Bem prega Frei Tomás.

Anónimo disse...

O Dr José Ernesto deveria passar por Beja e ver o recuperado Pax Julia e a intensa actividade cultural de qualidade que lá tem lugar. Onde não falta o cinema, que deixa a milhas os alfas da lusomundo de cá.

Évora Deluxe disse...

Ao 2.º anónimo (das 9:00), respondo no mesmo tom:

E tu, se não encolhes os ombros, fazes o quê? Eu fiz este blogue para falar sobre o assunto. É pouco, eu sei. Mas diz lá: tu fazes o quê, para além de inscreveres comentários inconsequentes e inúteis?

Anónimo disse...

Eu nem sequer encolho os ombros. Quando tenho um bocado de descanso, entre os meus dois trabalhos, inscrevo comentários inconsequentes e inúteis. Se tivesse tempo, talvez criasse um blogue.

Anónimo disse...

Não á dinheiro para pavimentar largos e ruas e passeios dentro da cidade quanto mais recuperar edifícios e pagar cultura,o investimento agora é todo para o embelezamento da acrópole e detrimento de outro projecto de requalificação urbana urgente fim da picada diz bem o nível de socialismo e primeiro as pessoas dito pelo presidente(mentiroso).

Anónimo disse...

Como?

Évora Deluxe disse...

Ao Anónimo das 4:44 do dia 10, solicitava-se o obséquio de se explicar um pouco melhor...

Anónimo disse...

A autarquia não tem dinheiro para pavimentar ruas e passeios quanto mais investir na recuperação de imóveis.No financiamento do qren a opção do presidente Ernesto foi o projecto acrópole que não passa de embelezamento do templo de diana deixando para trás outro projecto fim da picada o qual é de intervenção urgente e esta em causa a vida das pessoas.Como bom mentiroso o presidente Ernesto quando se candidatou disse primeiro as pessoas e agora faz o contrario!